Guaraná Paquera foi uma performance de um ano encenada no Instagram por Mariana Destro, construída a partir de uma série de imagens, vídeos, found texts e notas compartilhadas nos stories da plataforma. Após se submeter a uma cirurgia plástica, Mariana se propôs a investigar os modos de identificação associados à face humana. Assumindo o rosto como uma ficção que direciona, através da palavra, modos de viver, ela mergulhou, durante o ano de 2023, em um ciclo infindável de busca pelo “autoaperfeiçoamento”, estimulado pelos espectadores que consomem o corpo e a vida da artista que veem online.

Para reconstruir sua identidade, de modo a criar uma nova versão de si mesma baseada em quem já era, Mariana assumiu a comodificação de sua imagem, de seu corpo, aqui estrategicamente performada. Assim, ela se dispôs a fotografar o dia a dia, postar nas redes sociais e, de acordo com a dinâmica do Instagram, uma plataforma de produção de imagens sujeitas ao ethos neoliberal de produtividade e consumo, interagir com seus seguidores que, muitas vezes, respondiam por DM.

A artista escolheu quatro “editorias”, ou seja, temas recorrentes nas postagens para orientar a produção de conteúdo e provocar o engajamento do seu público. Dentre os assuntos das imagens, destacam-se exposições de arte, ateliês e obras em processo; paisagens do Rio de Janeiro e de Niterói; e autorretratos (ou selfies) em espaços variados, desde a universidade até a academia de ginástica, tendo como referência, na maior parte das vezes, outras imagens digitais que coletou no próprio Instagram e em outras redes sociais, ecoando a prática dos produtores de conteúdo.​​​​​​​
Guaraná Paquera was a year-long performance staged on Instagram by Mariana Destro, built from a series of images, videos, found texts, and notes shared on the platform's stories. After undergoing plastic surgery, Mariana set out to investigate the modes of identification associated with the human face. Assuming the face as a fiction that directs ways of living through words, in the year 2023 she dived into an endless cycle of searching for “self-improvement”, fueled by viewers who consume the artist's body and life that they see online.

To rebuild her identity, creating a new version of herself based on who she already was, Mariana embraced the commodification of her image and body, strategically performed here. Thus, she committed to photographing her daily life, posting on social media, and, by the dynamics of Instagram, a platform for image production subject to the neoliberal ethos of productivity and consumption, interacting with her followers who often responded via direct messages.

The artist chose four “editorials”, that is, recurring themes in the posts to guide content production and stimulate engagement from her audience. Among the subjects of the images, highlights include art exhibitions, studios, and works in progress; landscapes of Rio de Janeiro and Niterói; and self-portraits (or selfies) in various spaces, from the university to the gym, often referencing other digital images she collected on Instagram and other social media platforms, echoing the practice of content creators.
Guaraná Paquera — cujas iniciais, vale observar, são GP, abreviação popular para o termo “garota de programa” — é um registro da putaria de Mariana Destro, que tensiona narrativa, vida, ficção, criação e as possibilidades do corpo na era da aceleração digital. Através de uma performance documentada por dispositivos digitais e compartilhada em rede, cujo arquivamento envolve um exercício experimental de escrita em forma de site, tenciona-se articular na prática o poder da linguagem sobre o corpo, ou, mais especificamente, sobre o rosto.

Escolhido por ser um título intraduzível, uma vez que “guaraná” é uma derivação da palavra “wara'ná”, da língua indígena sateré-mawé, e “paquera”, uma corruptela da palavra “paqueiro”, que nomeia o cão adestrado para caçar pacas, Guaraná Paquera, além de ser o nome de um popular refrigerante do Rio de Janeiro, também se relaciona à institucionalização das Cosmococas de Hélio Oiticica, que, nos museus, contrariando as instruções do artista, não apresentam cocaína em suas instalações. Em vez disso, há o que muitas vezes parece ser pó de guaraná, suscitando algumas discussões sobre transgressão, marginalidade e institucionalização na arte.​​​​​​​​​​​​​​
Guaraná Paquera—whose initials, it's worth noting, are GP, a popular abbreviation for the term “garota de programa” (sex worker)—is a record of Mariana Destro's whoreness, challenging narrative, life, fiction, creation, and the possibilities of the body in the age of digital acceleration. Through a performance documented by digital devices and shared online, with its archiving involving an experimental writing exercise in the form of a website, the intention is to practically articulate the power of language over the body, or more specifically, over the face.

Chosen for being an untranslatable title, as “guaraná” is a derivation of the Sateré-Mawé indigenous word “wara'ná”, and “paquera” is a corruption of “paqueiro”, which names a trained dog for hunting pacas, Guaraná Paquera, besides being the name of a popular soft drink in Rio de Janeiro, is also related to the institutionalization of Hélio Oiticica's Cosmococas. In museums, contrary to the artist's instructions, they do not display cocaine in their installations. Instead, there is often what appears to be guaraná powder, sparking discussions about transgression, marginality, and institutionalization in art.